Linha Verde do Metro de São
Paulo. Sexta-feira, 20:45hrs. Entre dezenas de pessoas aglomeradas
uma mulher de aproximadamente 30 anos discute ou melhor, vomita toda a sua
revolta para um possível marido travado de vergonha diante de um vagão cansado, depois de uma semana de trabalho.
A mulher TPM não poupava adjetivos para o coitado
homem e como se tivesse sido a vida inteira enganada por falsas promessas, ela
não media esforços para tentar humilha-lo diante de todos aqueles olhares perplexos. Na plateia, sentado na primeira fileira assistindo o espetáculo uma
criança e seu pacote de Doritos. Ele comia e olhava para ela, em seguida para
ele e depois para mãe. Olhando para ela, para ele e para mãe. Assim,
calado como todos nós e com exceção da gritaria da louca em cena, só o ruído do
Doritos sendo triturado pelos pequenos dentes era ouvido. A ação permaneceu por
4 estações. Quatro longas e inalcançáveis estações.
E então, quando tínhamos certeza de que tudo já tinha
sido dito e ouvido naquele local, somos surpreendidos com um silêncio. O garoto
então chupa os dedos indicador e polegar que estavam sujos com aquela maçaroca
amarela-avermelhada de corante químico, vira-se para a mãe e diz:
“Gente grande é estranho né mamãe”???
A mãe baixa a cabeça num mix de vergonha e impotência
diante da conclusão questionada do pequeno e eu, me segurando para não falar o
que não devo, penso:
“É verdade moleque...
A gente finge amar para não contrariar sendo o
contrario a real.
A gente trepa sem camisinha pra sentir mais prazer sem
se preocupar com o final.
A gente tatua a pele pra ficar diferente e fica tudo
igual.
A gente se droga para se sentir bem e fica mal.
A gente é tonto, babaca, invejoso e intolerante mas
sempre acha que está correto e o mundo é que tá fora do normal".
Esses somos nós, os “adultos” que
insistimos em governar o mundo quando na verdade deveria ser feito pela honesta
e sincera alma de uma criança.
Universidade para que? Se é no primário que
encontramos os sábios.