quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Second life


Sempre tive dificuldades em decorar nomes, sempre me enrolei com regras gramaticais, datas e tudo que envolvesse números. Tudo, exatamente tudo o que aprendi na vida foi observando, escutando e claro, anotando. 
A escola era quase um pesadelo. Me sentia o ser mais deslocado da face da terra, não porque ouvisse isso mas, porque sempre me perguntava o que estava fazendo ali.
Quando me percebi ser humano, me percebi diferente de todo mundo. Tinha duas orelhas, dois braços, duas pernas e um nariz bonito mas ainda assim era diferente. Era como se eu vivesse em um mundo duplo e paralelo. Para tudo que eu vivia aqui sempre ouvia dentro de mim um segunda opinião. Existia sempre uma continuação onde só eu via, só eu participava, acho que é por isso que eu nunca me sentia só.
Às vezes eu acho que esse outro mundo foi criado quando eu ainda era criança e tinha meus amigos imaginários assim como todo mundo mas, diferente das outras pessoas que depois que cresceram deixaram de ver seus amigos, ainda enxergo meu mundo paralelo.
Desde criança minha mãe teve a preocupação de repassar todo o conteúdo escolar em casa, já que eu nunca compreendia nada escola e era assim em segurança e com a paciência materna que tudo tomava forma e fazia sentido para mim. Quando ela desencarnou, perdi metade desse mundo real e então para entender o porquê de continuar tentei encontrar significados, todavia, meu mundo ficou menor, sem cor, sem gosto e só ai entendi porque meu mundo paralelo ainda existia. Permanecia... 
É assim até hoje que procuro fazer sempre que as coisas complicam, me desligo e me refugio onde sempre aprendo, me conforto e encontro explicações com cheiro e cara de mãe. 
Durante muito tempo quis ser e agir como todo mundo mas quando compreendi que ser diferente era melhor, me entendi.
Já não sei mais há quantos anos minha mãe se foi, não lembrei de anotar mas, religiosamente todas as noites faço o que ela me ensinou e sei que mesmo que eu não me recorde a encontro durante meu sono físico. É estranho mas, me conforto porque é real, assim como meu mundo paralelo.
Um dia também sei que as coisas vão mudar e que esses dois mundos terão novos tamanhos e cores mas mesmo assim existirão e assim como as minhas vontades que oscilam e me fazem hospedar ora em um, ora em outro, terei novas conclusões.
Hoje sou assim e vivo bem nesses dois mundos. 
Até quando meu mundo paralelo vai existir? 
Não sei. Talvez até quando precise de respostas.