domingo, 8 de janeiro de 2012

Chá com cerveja

Hoje foi meu primeiro domingo útil do ano. Ou melhor, inútil do ano. Levando em conta a idéia de que os domingos foram criados para serem inúteis (não necessariamente nessa mesma ordem é claro) tento sempre que meu trabalho permite, desempenhar ao máximo essa função.
Enfim, acordei tarde como manda o figurino, li meu livro (Aleph do Paulo Coelho, muito bom por sinal #Ficaadica), comi besteira e vi bobagem. Fiquei de saco cheio e fui andar por ai, (pratica essa que pretendo fazer mais em 2012).
Foi legal, mesmo não conseguindo ver o filme que eu queria, encontrei um livro interessante que pretendo ler depois que acabar o que estou lendo agora. Alias, tentar equilibrar as coisas para não me sufocar é outro objetivo importante para esse ano.
Voltando para casa, parei em um café e tomei uma cerveja, algum incomum mas normal para alguém como eu e depois voltei andando para casa. Eu sei que é cretino esse trocadilho que vou fazer mas, já fazia um ano que não fazia isso. De verdade. Nem lembro mais quanto tempo não fiquei assim jiboiando, sem rumo e acreditem, foi muito bom.
Chegando no meu prédio encontrei com minha vizinha predileta, Dona Alice, uma japonesinha linda que mais parece a Sininho do Peter Pan. 
__ Oi, como vai a Senhora?  Pergunto
__Vou bem meu filho, sempre estou bem. Responde as risadas.
__Vamos tomar um chá lá em casa?  Repito o mesmo convite feito várias vezes no ano passado e ela responde inclinando a cabeça que sim.
Nos dirigimos ao elevador e vou papeando sobre as festas.
Já em casa e com o chá no fogo a conversa foi rolando e fui percebendo que suas perguntas estavam sendo repetidas. Sirvo sua caneca e sento ao seu lado para conversar mais próximo pois tive o receio que ela não estava ouvindo direito. Após comentar a roupa da Renata Ceribelli assunto esse que domina com maestria mesmo depois de anos de aposentada, pois tinha sido uma grande modista, pouco a pouco começa a repetir as coisas novamente, sempre como se fosse a primeira vez. 
Oh Deus! Pensei eu...
Fiquei triste, pois percebi que vou começar a perder minha Sininho. 
Ela é um amor de ser humano, tem o melhor bom humor da terceira idade e sua cabeça sempre tem o mesmo cheiro desde que me lembro. Foi com ela que percebi que ser velho e sem ninguém não era motivo de solidão. Gosto muito dela, de graça e curiosamente quando vim morar nesse prédio foi a primeira a me desejar boas vindas e ganhar meu magrelo coração. 
Depois que me terminamos (ela o chá e eu mais uma cerveja) a levei até o elevador e como sempre, dei mais um cheiro em sua cabeça e ela para despedir fez sua última pergunta mesmo não sendo inédita para essa noite:
__É seu esse apartamento?
Respondi e desejei boa noite e dessa vez ao invés da tristeza de antes, me enchi de alegria pois me dei conta que Deus realmente é muito bom e da mesma forma que nos prepara nove meses para nos despejar nesse mundo louco, nos desconecta aos poucos também, para que nossa nova vida não seja angustiada por lembranças antigas.


Boa noite a todos.